Curso de Verão e Intereclesial de CEBs fortalecem a igreja popular

Nesta terça feira (07), na cidade de Juazeiro do Norte, diocese de Crato/CE, inicia 13º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Para o evento são aguardadas cerca de 4 mil pessoas. Sobre o assunto, veja entrevista com padre José Oscar Beozzo, assessor das CEBs e coordenador geral do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (CESEEP), instituição que promove o Curso de Verão.

Que relação se pode estabelecer entre o Curso de Verão e o encontro de CEBs no que diz respeito ao significado para a vida das comunidades?

O Curso de Verão nasceu de um entrelaçamento muito forte entre a caminhada das CEBs e o desafio da formação. Foi no 6º intereclesial que a gente amarrou a parceria entre as CEBs e a animação do Curso de Verão. Em Goiânia, a equipe que preparou o 7º intereclesial, também montou o Curso de Verão do Centro Oeste.

Infelizmente, esse ano o Curso de Verão coincidiu com a data de realização do encontro de CEBs.  Assim, muitas lideranças foram participar do intereclesial das CEBs e não puderam estar aqui no Curso de Verão. Mas, estamos muito interligados porque os dois eventos são irmãos gêmeos. A gente espera que um fortaleça o outro.

Quais as principais características das CEBs?

As CEBs têm sido um espaço onde o protagonismo do povo de Deus se tornou real; onde os ministérios leigos floresceram. Elas superaram aquilo que o papa Paulo VI dizia ser a maior desgraça, ou seja, a separação entre fé e vida. As CEBs concretizaram de maneira firme o compromisso cristão frente às questões da pobreza e da justiça social, superando a ideia da fé cristã limitada ao âmbito intraeclesial. Elas também se tornaram o aconchego, o lugar da celebração da vida, da partilha das alegrias, bem como das dores do povo. Constituíram-se um espaço muito especial da solidariedade diante daqueles que sofrem.

O 13º encontro tem como tema “Justiça e Profecia a serviço da vida” e lema “Romeiras do Reino no Campo e na Cidade”.  Em que consiste concretamente ser justo e profético no mundo de hoje?

Estamos diante de muita desigualdade, pobreza e sofrimento. O coração se sensibiliza, a gente acode e tenta resolver individualmente essas questões, mas elas têm raízes mais profundas, estruturais. Quando colocamos em primeiro lugar a justiça, estamos tratando de transformar essas estruturas que produzem pobreza, miséria e discriminação. A justiça é fundamental. Não é a toa que o profeta Isaías dizia que a paz é fruto da justiça. A profecia é essa ousadia de denunciar, de sonhar que as armas podem se transformar em arado. A profecia é, ao mesmo tempo, lugar da denúncia, do sonho e da utopia. Sem sonho nós não caminhamos. Temos que lutar concretamente pela justiça em favor da vida. Assim, teremos um horizonte para todos, sem discriminação de raça, cor, religião… A luta pela vida nos une a todos.

Eu achei bonito também o lema do encontro que diz que as CEBs são romeiras. O intereclesial acontece na cidade de Juazeiro, que é o grande centro de romarias do sertão nordestino. Ali a figura do padre Cícero se destaca. Embora tenha ficado suspenso de ordens durante 40 anos, o povo  continuou indo buscar nele essa dimensão muito esquecida no ministério sacerdotal, que é a acolhida, o conselho, a atenção diante do sofrimento. Padre Cícero foi muito solidário com o povo sofrido. Temos que fortalecer as CEBs nas cidades, mas não esquecer também as CEBs no campo.

Na sua análise, quais os principais desafios que as CEBs encontram hoje no interior das Igrejas?

Tem um desafio que transcende as Igrejas. Nós vivemos numa sociedade extremamente individualista, de competição, onde não há espaço para a solidariedade. O desafio de fundo das CEBs é o de remar contra a corrente, ou seja, contra esse individualismo feroz. Não pode ser cada um pra si e Deus pra todos. A comunidade é a contestação radical da proposta capitalista, consumista, de puro individualismo, reduzindo a pessoa a indivíduo. A pessoa é um nó de relações, onde a comunidade e a família são importantes.

Temos que olhar também para dentro da Igreja. Aí o desafio está relacionado à denúncia que o papa Francisco fez, quando disse que a pior praga na Igreja hoje é o clericalismo. As CEBs reafirmam o batismo e a identidade dos leigos/as. As CEBs já avançaram muito no sentido de garantir participação, autonomia e protagonismo das mulheres, mas esse problema não está resolvido na Igreja. As CEBs são um espaço fundamental para avançar na questão da participação plena e da plena igualdade das mulheres dentro da Igreja.

A questão ecológica é outro grande desafio. A ecologia exige cuidado com o lixo que produzimos dentro de casa, o consumismo, o uso da água, o uso do espaço público e tudo o que agride o meio ambiente.

(Dirceu Benincá – Assessoria Comunicação Curso de Verão)